vemos em nós que cessa. Fernando Pessoa
Esse texto é uma reflexão sobre o início de um novo ciclo virtuoso de nossa
trajetória e, para refletir sobre este novo ciclo, cabe relembrar como
chegamos até aqui.
Podemos dividir o processo político do PV em dois outros ciclos virtuosos:
nosso primeiro momento de existência talvez tenha ficado marcado pelo
ativismo predominantemente ecológico e pelas atitudes não conservadoras do
ponto de vista comportamental; em síntese, nosso nascimento esteve
intimamente ligado às contestações tradicionais da política brasileira. Todos os
temas renegados pelos outros partidos para nós eram fundamentais, podendo
ressaltar a onda antinuclear, os movimentos ecológicos e pacifistas, as
liberdades individuais e coletivas, os direitos das minorias e a mudança da
legislação em relação às drogas. Essa fase formatou nosso DNA poltico que
levaremos até o fim de nossa existência.
Em nosso segundo ciclo, o objetivo era aumentar nosso espaço no cenário
político e mostrar a viabilidade eleitoral. Promovemos um processo de
abertura sem abandonar os ideais do nosso nascimento, porém, para conquistar
fatias do poder foi necessário aglutinar forças vivas tendências da
sociedade, pois no bastavam apenas os ambientalistas para construir nossas
listas de candidatos, para construir o Partido num país com as dimensões
territoriais do Brasil e um sistema eleitoral que valoriza mais o
indivíduo do que o Partido. Precisávamos ser pragmáticos sem perder o horizonte
programático. Com essa estratégia ganhamos capilaridade em toda a sociedade,
viabilizamos nosso crescimento, elegemos vereadores, prefeitos e deputados.
Evidente que todo processo de abertura traz consigo alguns problemas, no
entanto a direção do Partido soube cortar os males que vieram deste processo,
e assim conquistamos o respeito e a raiva da classe política, pois fomos
ocupando espaços e colocando em prática nossos ideais. Cabe ressaltar que tudo
isso exigiu um esforço enorme dos dirigentes, pois promover um
crescimento partidário sem a máquina governamental, sem recursos, sem
estruturas consolidadas como sindicatos e igrejas para nos lastrear foi uma
tarefa que exigiu muito suor e trabalho de todos.
O sucesso do ciclo anterior trouxe consigo a possibilidade de, pela primeira
vez em nossa história, construir uma candidatura presidencial com chances
reais de interferir no processo eleitoral bem como colocar de uma vez por
toda a tese da sustentabilidade no eixo do debate eleitoral, por isso o
Partido não mediu esforços para construir suas chapas e candidaturas próprias,
e mostrar para todos que possível fazer política de um novo jeito, mostrar
que podemos crescer com qualidade. As candidaturas de Marina, Fábio e
Ricardo, bem como a eleição, no Estado de So Paulo, de 05 deputados federais e
09 estaduais deixaram claro que já estamos em outro patamar, pois aumentamos
nossa força política e conseguimos garantir a qualidade de nossos
representantes.
Com os resultados obtidos nesse processo, entramos em um novo ciclo e nossas
responsabilidades aumentaram. Pensamos que, para entender esse novo momento,
teremos que nos perguntar o que é esse novo jeito de fazer política. Seria
muita pretensão de nossa parte responder a esta questão, pois é uma pergunta
que ainda está aberto para juntos acharmos as respostas, porém depois de
debater com muitos verdes, queremos dar uma pequena contribuição para
tentarmos entender este novo ciclo e responder a essa difícil questão.
A meu ver o eixo central desta resposta está em definir que o processo para
chegar ao mundo ideal é tão importante quanto o mundo ideal. Se assumirmos
isso como um valor, deixaremos de lado o vale tudo eleitoral tão eficaz na
cultura política brasileira. Se o processo é mais importante que o resultado
final, teremos que rever alguns processos para que possamos dialogar com
todos que desejam esse novo jeito de fazer poltica.
A primeira sugestão se concentra no fato de que o sistema político brasileiro
tornou-se surdo, a classe política no está interpretando o que esta nova
sociedade e economia está dizendo. Se nós, os verdes nos dermos o direito de
ouvir, pode ser o porta-voz destes desejos e cabe a nós desobstruir os
canais entupidos da política tradicional, assim sendo a proposta que
ampliemos todos nossos espaços de debate com a sociedade. Vamos abrir nossas
portas para que todos possam dialogar conosco, da mesma maneira que no ciclo
anteriores tiveram a coragem de uma abertura interna para as pessoas que
desejavam fazer política em nossas fileiras. Agora temos que fazer uma enorme
abertura externa para que as organizações da sociedade civil, os jovens, os
intelectuais, os religiosos, e todos aqueles que desejam essas novas práticas
sintam-se à vontade para construir conosco os elementos de transformação com os
quais sonhamos. Precisamos criar urgentemente, dentro do PV,
instrumentos de absorção destas idéias, pois não existe progresso sem o
contraditório.
A segunda sugestão segue na linha de doarmos um pouco mais de tempo para
entender o que Política em rede. Ainda olhamos para a internet apenas como
um veículo de comunicação, porém lentamente já percebemos que ela é um instrumento
de envolvimento das pessoas no processo político. As agendas ocultas tão
comuns no jogo político estão se estraçalhando e acabamos de entrar na I Guerra
Mundial da era Virtual. Se antes do Wikileaks isso já é era possível, agora será
impossível prever os desmembramentos dos novos acontecimentos; assim sendo,
todos nós do Partido Verde podemos ser o Partido Rede, precisamos estar
conectados a esse novo conceito de política. Nada substituirá os
acontecimentos concretos da vida humana, porém cada vez mais os movimentos
iniciais passarão pelos caminhos virtuais, e se quisermos envolvimento humano
no nosso projeto, precisamos entender melhor como os jovens se relacionam e
conectam-se.
A terceira sugestão consiste em reforçar alguns valores sobre os quais já
falamos e os defendemos, porém precisamos exercitar, na prática, com mais
vontade. So eles: transparência, generosidade, alegria, tolerância,
diversidade, identidade, criatividade, liberdade, idealismo, democracia,
felicidade e espiritualidade. Em síntese, se desejamos fazer política de
maneira diferente precisamos definir coletivamente o que é inegociável para
os verdes. Talvez já tenhamos algumas respostas, entre elas, excluir o
oportunismo, pessoas que passam por cima dos outros, projetos individuais, o
mercantilismo da política, processos totalitários, vaidades, personalismo, assim poderemos negociar nossas estratégias políticas sem perder nossa
essência.
A penúltima sugestão, que ao longo desse processo eleitoral o PV deixou claro, é a de que cada vez mais é preciso discutir um Programa com a sociedade. Basta
lembrar que fomos os únicos que trouxemos novos conteúdos nesta eleição, tais
como, programas sociais de terceira geração, economia criativa e da
biodiversidade, economia da baixa intensidade de carbono, sistema preventivo
de saúde pública e para as novas doenças como obesidade e depressão, educação do
conhecimento para sociedade, pois novos trabalhos exigem novos currículos,
consumo responsável, compromissos éticos com a própria campanha, transporte
fluvial e não motorizado, sistema de avaliação e metas de desempenho no serviço
público e um centro de encontro entre as lideranças, os intelectuais, a
sociedade civil para debater o futuro de todas essas inovações que foram
trazidas por nossas campanhas. Isto mostra que o PV tem um papel de indutor
das inovações na atrasada política brasileira, por isso precisamos, em todas as instâncias, criar fóruns para debater programas
de governo, incentivar a criatividade nas soluções. Se quisermos ser
diferentes, devemos propor políticas diferentes, arejadas e escapar das
soluções tradicionais. Temos certeza de que, nas próximas eleições, estes temas
estarão em todos os debates. Quando falávamos em meio ambiente ninguém desejava
ouvir, hoje todos são obrigados a, no mínimo, se prepararem para o tema. Essa
característica cosmopolita foi o grande legado desta campanha que precisamos
dividir com todos os verdes e criar espaços para a propagação de novas idéias.
Por último, se quisermos participar deste novo ciclo, será necessário ativar o
processo de pensamento, elevando-o para outro nível, abrir esse diálogo
consigo mesmo, como uma conversa continua, novas perguntas exigem novas
respostas. As mudanças que desejamos para a sociedade primeiramente precisam
acontecer dentro de nós, e apenas será possível criar um novo jeito de fazer
política se nos tornarmos novos seres humanos, pois nós somos a política.
Por esta razão, o processo mais é importante que o resultado final. Se
conseguirmos entrar nesse novo ciclo, o fim será o próprio meio, pois ao mudar
nossas formas de pensar, mudarão a forma de fazer política e, certamente,
continuaremos a crescer e conquistar espaços, sempre tendo em mente que o
objetivo maior de todo e qualquer projeto político a felicidade humana.
Por tudo isso penso que o Partido precisa urgentemente fazer os seminários em todos os
estados, e fazermos as mudanças necessárias com urgência para que em 2012 já
entremos na eleição sobre a guia destes novos valores, defendo nossa Convenção
em Julho para que ainda nos meses de agosto e setembro, possamos criar as
condições para as candidaturas próprias em todas capitais e cidades de grande
porte, e assim vocalizarmos aos quatro cantos do Brasil o Novo jeito de Fazer
Política.
Maurcio Brusadin
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