terça-feira, 29 de março de 2011

"Nossa Natureza Não é Provisória"

Nessa madrugada, após ler e reler, ouvir diversos verdes no Brasil sobre as dúvidas que recaem sobre nossa crise interna, decidi escrever este texto para tentar politizar o debate.

Primeiramente gostaria de me dirigir àqueles bem intencionados que insistem que não devemos brigar, que estamos rachando o Partido. Não estamos fazendo uma guerra, simplesmente temos opiniões diferentes sobre nosso futuro. O que não pode acontecer é que se use instrumentos de intimidação para impedir o livre debate de idéias, como se as pessoas tivessem dono. Essa prática acentua a visão de que o Partido é um feudo, e com isso não vamos pactuar.

Mas vamos ao que interessa, ou seja, qual o pano de fundo do atual debate? A “briga” não é apenas uma disputa por seis meses ou um ano para realizar a convenção, como tentam carimbar o debate. Se isso fosse verdade, reduziria nosso projeto apenas a uma disputa pelo poder interno, o que não é verdade. Propomos que, democraticamente, façamos nossa Convenção para decidir se queremos ou não manter o projeto próprio em 2014, pois para chegarmos com a força necessária precisamos ser protagonistas em estados que somos meros coadjuvantes. Se não tivermos candidatura para prefeito nas capitais e nas principais cidades, se não abrimos as portas do partido para a entrada de várias pessoas que desejam construir esta Nova Forma de fazer Política, chegaremos em 2.014 fragilizados e com menor capacidade de apresentarmos à sociedade uma alternativa à mesmice da lógica plebiscitária da situação x oposição.

Nesse sentido, se passarmos de outubro para fazermos as mudanças, não teremos as transformações necessárias para que o PV crie as condições para o fortalecimento do seu projeto. As alianças estaduais envolvendo participação no governo não podem acontecer se representarem algum desvio do rumo do partido desse projeto próprio. Dou um exemplo muito claro aqui em São Paulo. Participamos do Governo (fui voto vencido), mas a aliança é em função da governabilidade, ou seja, os nove deputados são da base de apoio,mas não há compromisso em relação a candidaturas para 2.012. Não vendemos o futuro. Em todas as conversas com o Governo deixamos claro que teremos candidato na capital e em todas as cidades pólo.

Tivemos um resultado espetacular nas eleições de 2.010. Foram 20 milhões de eleitores que apertaram o 43, mas, infelizmente, nem todos o fizeram pensando no PV. Por isso, precisamos urgentemente nos aproximar destes desejos expressos nas urnas, realizarmos uma ampla campanha de filiação em todo o Brasil e discutirmos de verdade a reestruturação do partido e o aprofundamento da democracia interna, culminando com a Convenção em julho, para o quanto mais rápido possível incorporarmos os frutos que conquistamos nas urnas em 2010. Ao invés disso, esperamos 5 meses para fazermos a primeira reunião da Executiva Nacional após as eleições e a única decisão tomada foi a prorrogação do seu próprio mandato por até um ano.

Não há razão para a não realização da Convenção. Os que estamos pleiteando a Convenção  em julho somos minoria, e mesmo assim não nos dão o direito de sequer colocarmos as posições que defendemos (ou alguém acha que faremos convenções em ano eleitoral?). Por isso, o problema  não é apenas de tempo, e sim se estamos dispostos a rapidamente nos preparar para as eleições municipais como protagonistas no processo político.

Colocado isso gostaria de esclarecer qual o grande eixo do debate em nossa visão. Não se trata de ficar discutindo quem é mais ou menos democrático. Até o presente momento nosso estatuto usou de um mecanismo de proteção contra os assaltos da política tradicional, ou seja, a PROVISORIEDADE. Somos hoje 100% provisórios, todas as Executivas Estaduais são provisórias, que escolhem as Executivas Municipais ... provisórias. Acredito que esse mecanismo foi importante para nossa caminhada até aqui, mas não precisamos mais dele, já estamos prontos para democracia. É urgente acabar com o poder de tutela da Nacional sobre as Estaduais e das Estaduais sobre as Municipais. Na verdade, esse mecanismo de proteção contra os políticos tradicionais hoje concentram um poder absoluto na Direção Nacional. Se queremos incorporar as pessoas que vieram nesse projeto, é mais que necessário substituir a insegurança que gera esse instrumento pela conquista de autonomia pelos estados e os municípios, caminhando para eleição direta.

Somado a este conceito de Democracia, também defendemos o fim da reeleição dentro do PV. Estatutariamente somos Parlamentaristas, mesmo que até aqui a estabilidade dos mandatos da Nacional tenha sido útil. O Partido cresceu e agora que temos a possibilidade de nos consolidar como  a Terceira Via no Brasil, precisamos resgatar nossas origens. Assim, não faz mais sentido sucessivos mandatos presidenciais e um poder altamente concentrado numa estrutura só.

Resumindo, nossa causa não é uma briga de fulano com cicrano, queremos mudanças organizacionais no PV que se concentram nos aspectos relatados acima: sermos protagonistas nas eleições de 2012; fortalecimento do PV para disputarmos as eleições de 2014; incorporar as conquistas obtidas nas eleições de 2010; marcarmos nossa Convenção Nacional para Julho deste ano; fim da Reeleição; e, o mais importante, acabar com o sistema de provisoriedade no PV através de eleições democráticas, admitindo que temos que fazer uma transição para esse modelo não esgarçar nossas entranhas.

Todos esses desejos já eram debatidos em vários encontros do PV, essas teses sempre foram defendidas por muitos Verdes do Brasil a fora, no entanto elas precisavam de terreno fértil para germinar e as eleições de 2010 foram as enzimas catalisadoras deste processo. Essas demandas são urgentes, não podemos fazer o debate de torcida, o que está em questão é o futuro do PV. Aí não cabe agressões, brigas pessoais e sim um grande debate. Alguns pensam que sairemos menores disso tudo. Eu acredito que não, basta olhar para os duelos internos que passaram o PT e o PSDB, como exemplo. Cito o caso de São Paulo, onde a briga interna entre Serra e Alckmin não fez com que eles perdessem o Governo de São Paulo, assim como os rachas no PT não impediram que eles chegassem a Presidência. Penso que a sociedade é diversa, ela entende que numa família, numa casa, num clube, em qualquer lugar que tenhamos um agrupamento humano, teremos conflito e  debates. Isso é salutar, desde que feito em ambiente onde o contraditório possa ser estabelecido sem represárias e uso de instrumentos que negam a diversidade. Tanto que, antes desse debate, a sede estadual recebia em média de 03 a 04 pessoas por dia para se filiarem. Agora passamos de dez, ou seja, o debate reacende nas pessoas que o PV é um organismo vivo, não é como os Partidos tradicionais que o debate é só sobre os negócios. Aqui pensamos, respeitamos a história um do outro e debatemos sobre nosso futuro comum.

NOSSA LUTA PELA NATUREZA NÃO PODE SER PROVISÓRIA, NEM TUTELADA, NÃO PRECISAMOS TER MEDO DE COLOCAR O QUE PENSSAMOS. COMO PODEMOS QUERER MUDAR A SOCIEDADE SE ANTES NÃO MUDAMOS A NÓS MESMOS. DAS CRISES É QUE NASCEM AS OPORTUNIDADES, DESSE DEBATE VAI NASCER A SINTESE DE UM NOVO MODELO.  SCHUMPETER CHAMOU ISSO DE DESTRUIÇÃO CRIADORA, QUANDO NOS COLOCAMOS DISPOSTOS A MUDAR O NOVO E O ANTIGO CONVIVE JUNTO NUMA HARMONIA DIALÉTICA, NA QUAL A PRUDÊNCIA DO ANTIGO SE RESVALA NA ANSIEDADE DO NOVO, DISSO NASCERÁ UM NOVO EQUILIBRIO,

ABRAÇOS VAMOS AO DEBATE, NÃO AO EMBATE!

Maurício Brusadin

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