segunda-feira, 28 de março de 2011

O PROCESSO É MAIS IMPORTANTE QUE O RESULTADO FINAL

Tudo que se passa onde vivemos é em nós que se passa. Tudo que cessa no que vemos é em nós que cessa”. Fernando Pessoa

No campo simbólico, a atividade de hoje marca o fim de um ano de muitas realizações e conquistas do Partido Verde de São Paulo, no entanto, como verde que somos, já estamos preocupados com nosso futuro comum.
Não quero aqui enaltecer nossa vitória, pois esta já é visível a olhos nus, mas pretendo refletir com vocês o que penso ser o início de um novo ciclo virtuoso de nossa trajetória e, para refletir sobre este novo ciclo, cabe relembrar como chegamos até aqui.
Podemos dividir o processo político do PV em dois outros ciclos virtuosos: nosso primeiro momento de existência talvez tenha ficado marcado pelo ativismo predominantemente ecológico e pelas atitudes não conservadoras do ponto de vista comportamental; em síntese, nosso nascimento esteve intimamente ligado às contestações tradicionais da política brasileira. Todos os temas renegados pelos outros partidos para nós eram fundamentais, podendo ressaltar a onda antinuclear, os movimentos ecológicos e pacifistas, as liberdades individuais e coletivas, os direitos das minorias e a mudança da legislação em relação às drogas. Essa fase formatou nosso DNA político que levaremos até o fim de nossa existência.
Em nosso segundo ciclo, o objetivo era aumentar nosso espaço no cenário político e mostrar a viabilidade eleitoral. Promovemos um processo de abertura sem abandonar os ideais do nosso nascimento, porém, para conquistar fatias do poder, foi necessário aglutinar forças de várias tendências da sociedade, pois não bastavam apenas os ambientalistas para construir nossas listas de candidatos, para construir o Partido num país com as dimensões territoriais como o Brasil e com um sistema eleitoral que valoriza mais o indivíduo do que o Partido. Precisávamos ser pragmáticos sem perder o horizonte programático. Com essa estratégia ganhamos capilaridade em toda a sociedade, viabilizamos nosso crescimento, elegemos vereadores, prefeitos e deputados.

É evidente que todo processo de abertura traz consigo alguns problemas, no entanto a direção do Partido soube cortar os males que vieram deste processo, e assim conquistamos o respeito e a raiva da classe política, pois fomos ocupando espaços e colocando em prática nossos ideais. Cabe ressaltar que tudo isso exigiu um esforço enorme dos dirigentes partidários, pois promover um crescimento partidário sem a máquina governamental, sem recursos, sem estruturas consolidadas como sindicatos e igrejas para nos lastrear foi uma tarefa que exigiu muito suor e trabalho de todos.

O sucesso do ciclo anterior trouxe consigo a possibilidade de, pela primeira vez em nossa história, construir uma candidatura presidencial com chances reais de interferir no processo eleitoral bem como colocar de uma vez por todas a tese da sustentabilidade no eixo do debate eleitoral, por isso o Partido não mediu esforços para construir suas chapas e candidaturas próprias, e mostrar para todos que é possível fazer política de um novo jeito, mostrar que podemos crescer com qualidade. As  candidaturas de Marina, Fábio e Ricardo, bem como a eleição, no Estado de São Paulo, de 06 deputados federais e 09 estaduais, deixaram claro que já estamos em outro patamar, pois aumentamos nossa força política e conseguimos garantir a qualidade de nossos representantes.

Com os resultados obtidos nesse processo, entramos em um novo ciclo e nossas responsabilidades aumentaram. Pensamos que, para entender esse novo momento, teremos que nos perguntar o que é esse novo jeito de fazer política. Seria muita pretensão de nossa parte responder a esta questão, pois é uma pergunta que ainda está aberta para juntos acharmos as respostas, porém depois de debater com muitos verdes, queremos dar uma pequena contribuição para tentarmos entender este novo ciclo e responder a essa difícil questão.

A meu ver o eixo central desta resposta está em definir que o processo para chegar ao mundo ideal é tão importante quanto o mundo ideal. Se assumirmos isso como um valor, deixaremos de lado o vale tudo eleitoral tão eficaz na cultura política brasileira. Se o processo é mais importante que o resultado final, teremos que rever alguns processos para que possamos dialogar com todos que desejam esse novo jeito de fazer política.

A primeira sugestão se concentra no fato de que o sistema político brasileiro se tornou surdo, a classe política não está interpretando o que esta nova sociedade e economia estão dizendo. Se nós os verdes nos dermos o direito de ouvir, podemos ser o porta-voz destes desejos e cabe a nós desobstruir os canais entupidos da política tradicional, assim sendo a proposta é que ampliemos todos nossos espaços de debate com a sociedade. Vamos abrir nossas portas para que todos possam dialogar conosco, da mesma maneira que no ciclo anterior tivemos a coragem de uma abertura interna para as pessoas que desejavam fazer política em nossas fileiras. Agora temos que fazer uma enorme abertura externa para que as organizações da sociedade civil, os jovens, os intelectuais, os religiosos, e todos aqueles que desejam essas novas práticas sintam-se à vontade para construir conosco os elementos de transformação com os quais sonhamos. Precisamos criar urgentemente, dentro do PV, instrumentos de absorção destas ideias, pois não existe progresso sem o contraditório.

A segunda sugestão segue na linha de doarmos um pouco mais de tempo para entender o que é Política em rede. Ainda olhamos para a internet apenas como um veículo de comunicação, porém lentamente já percebemos  que ela é um instrumento de envolvimento das pessoas no processo político. As  agendas ocultas tão comuns no jogo político estão se estraçalhando e acabamos de entrar na I Guerra Mundial da era Virtual. Se antes do Wikileaks isso já era possível, agora será impossível prever os desmembramentos dos novos acontecimentos; assim sendo, todos nós do Partido Verde podemos ser o “Partido Rede”, precisamos estar conectados a esse novo conceito de política. Nada substituirá os acontecimentos concretos da vida humana, porém cada vez mais os movimentos iniciais passarão pelos caminhos virtuais, e se quisermos envolvimento humano no nosso projeto, precisamos entender melhor como os jovens se relacionam e se conectam.

A terceira sugestão consiste em reforçar alguns valores sobre os quais já falamos e os defendemos, porém precisamos exercitar, na prática, com mais vontade. São eles: transparência, generosidade, alegria, tolerância, diversidade, identidade, criatividade, liberdade, idealismo, democracia, felicidade e espiritualidade. Em  síntese, se desejamos fazer política de maneira diferente, precisamos definir coletivamente o que é inegociável para os verdes. Talvez já temos algumas respostas, entre elas, excluir o oportunismo, pessoas que “passam por cima” dos outros, projetos individuais, o mercantilismo da política, processos totalitários, vaidades, personalismo, e só assim poderemos negociar nossas estratégias políticas sem perder nossa essência.

A penúltima sugestão, que ao longo desse processo eleitoral o PV deixou claro, é que cada vez mais é preciso discutir um Programa com a sociedade. Basta lembrar que fomos os únicos que trouxemos novos conteúdos nesta eleição, tais como, programas sociais de terceira geração, economia criativa e da biodiversidade, economia da baixa intensidade de carbono, sistema preventivo de saúde pública e para as novas doenças como obesidade e depressão, educação do conhecimento para sociedade, pois novos trabalhos exigem novos currículos, consumo responsável, compromissos éticos com a própria campanha, transporte fluvial e não motorizado, sistema de avaliação e metas de desempenho no sérico público e um centro de encontro entre as lideranças, os intelectuais, a sociedade civil para debater o futuro de todas essas inovações que foram  trazidas por nossas campanhas. Isto mostra que o PV tem um papel de indutor das inovações na atrasada política brasileira, por isso precisamos, em todas  instâncias, criar fóruns para debater programas de governo, incentivar a criatividade nas soluções. Se  quisermos ser diferentes, devemos propor políticas diferentes, arejadas e escapar das soluções tradicionais. Temos certeza de que, nas próximas eleições, estes temas estarão em todos os debates. Quando falávamos em meio ambiente ninguém desejava ouvir, hoje todos são obrigados a, no mínimo, se prepararem para o tema. Essa  característica cosmopolita foi o grande legado desta campanha que precisamos dividir com todos os verdes e criar espaços para a propagação de novas idéias.

Por último, se quisermos participar deste novo ciclo, será necessário ativar o processo de pensamento, elevando-o para outro nível, abrir esse diálogo consigo mesmo, como uma conversa contínua, novas perguntas exigem novas respostas. As  mudanças que desejamos para a sociedade primeiramente precisam acontecer dentro da nós, e apenas será possível criar um novo jeito de fazer política se nos tornarmos novos seres humanos, pois nós somos a política.

Por esta razão, o processo é mais importante que o resultado final. Se  conseguirmos entrar nesse novo ciclo, o fim será o próprio meio, pois ao mudar nossas formar de pensar, mudaremos a forma de fazer política e, certamente, continuaremos a crescer e conquistar espaços, sempre tendo em mente que o objetivo maior de todo e qualquer projeto político é a felicidade humana.

Rumo a 2014!

Maurício Brusadin
Presidente do Diretório Estadual do Partido Verde de São Paulo“

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