domingo, 27 de março de 2011

Sobre sonhos humanos e autoritarismo

Comunicamos à Executiva que no próximo mês de julho faremos nossa primeira eleição direta para Presidente Estadual do Partido Verde de São Paulo. Esta decisão já foi tomada na reunião da última segunda-feira, e de forma concreta, há apenas um ano na Presidência Estadual, assumi o compromisso perante os membros da Executiva Estadual de que não sou candidato à reeleição, pois para conduzir este processo eleitoral, que será o primeiro da história do PV paulista, é importante que a condução tenha lisura, garantias e que nenhuma dúvida paire sobre a eleição.

Cabe lembrar que aqui em São Paulo já temos um processo democrático em andamento nas bacias, temos conselhos regionais que elegem coordenadores e Presidentes de Bacia, além de deliberarem sobre as executivas municipais que estão sendo organizadas. Há dois anos atrás, as executivas municipais fizeram eleições internas, nas quais elegeram seus dirigentes, além de um Conselho Municipal. Agora em maio, todos realizarão novamente eleições, só que o Conselho Municipal passa a votar também. É evidente que isto é apenas um início de ampliação participativa, queremos mais, estamos fazendo isso gradativamente, mesmo que em algumas regiões forças queiram nos impedir de avançar. Podemos afirmar que praticamente em 80% do Estado de São Paulo isso funciona muito bem.


Gostaria também de lembrar que este mesmo comportamento eu tive quando fui Secretário Nacional de Juventude, na ocasião em que fizemos um acordo extra-executiva entre os jovens e disse a eles que faríamos uma escolha democrática, sem amparo estatutário, porém era uma forma dos jovens darem um recado para todo o partido. Fizemos uma eleição direta entre os secretários estaduais de Juventude e mais dois delegados por Estado. Entretanto, como não era estatutário, fizemos mas não levamos. Talvez este tenha sido o dia mais triste nesses meus 18 anos de PV, pois lancei uma idéia na cabeça dos jovens e não pude concretizar. Erro meu, evidente, você sabe o quanto debatemos naquele dia que não me sai da cabeça. Perdi, aceitei, levantei a cabeça e falei comigo mesmo: “Um dia você vai contar para os Verdes que você defende Democracia há muito tempo.”


Mas você tem razão: às vezes existe uma distância entre intenção e gesto, falamos coisas e fazemos outras. Nesses anos todos cheguei a uma conclusão sobre as razões deste comportamento: penso que nosso estatuto, que foi muito importante até aqui, é o principal responsável. Os instrumentos de controle de poder contidos nele são arcaicos, foram importantes para nossa travessia até aqui, de uma forma ou de outra ele protegeu o Domus do poder interno de assaltantes da política tradicional. No entanto, ele é a razão primeira de toda essa discussão que passamos nesse momento. Não podemos falar de políticas públicas para o século XXI com um estatuto do século XX, PRECISAMOS URGENTEMENTE REFORMAR NOSSA CARTA INTERNA.

Depois de 20 milhões de votos, não podemos mais ser 100% provisórios, não podemos mais ter estados cujas direções preferem ser coadjuvantes, não podemos mais deixar essa imensa juventude que quer entrar aqui sem direito ao voto. Esse pessoal que decide até a cor da calcinha da Madonna em dia de show, como aceitarão ser tutelados? Não podemos mais impedir posições diferentes na base da pressão ou da caneta. Nesta semana sofri muito com isso, a cultura do medo tem que acabar, tenho que ter direito de falar o que penso, sem medo de sofrer represálias. Se nos debruçarmos sobre isso, acho que teremos um ótimo ponto de partida.


Reconheço o trabalho acumulado do nosso Presidente, trabalhei e muito para sua eleição, imagino como foram duras as chacotas iniciais sobre o PV para ele, Alfredo e Gabeira. Esses personagens deram a vida para chegarmos até aqui, mas também acredito que eles sabem que todo e qualquer organismo vivo tem sua síntese ao passar do tempo. Estou tentando colaborar nesse sentido, sem agressões, sem transformar isso numa guerra de torcidas, mas acho natural uns apresentarem uma proposta e outros outra. SÓ NO CONTRATIDÓRIO TEMOS DESENVOLVIMENTO. Precisamos elevar o nível do debate, com desprendimento, porém sabendo que temos visões diferentes sobre o futuro. Talvez o fato de termos juntos sofrido muito ao longo destes anos, não aprendemos a separar o “eu” do “outro”. No fundo, nós sabemos que pensamos diferente, só que nossos mecanismos de defesa trabalhavam para ficarmos sempre juntos, pois éramos muito pequenos. Agora, que crescemos com o trabalho acumulado de todos, já podemos explicitar democraticamente nossas diferenças. Talvez, se fizéssemos uma leitura fria disso tudo, poderíamos dizer que o Penna é vitima de seu próprio trabalho vitorioso que propiciou o crescimento de nosso partido.

Tenho muitas coisas para falar, porém estou muito cansado neste momento. Vou deixar para escrever com calma na próxima sexta, mas quero fazê-lo com a liberdade de falar dos meus sonhos, das propostas para os seres humanos e de preferência contra o meu próprio autoritarismo.

Um grande abraço.

2 comentários:

  1. Otimo texto Brusa! Juntos na democratização do partido! Grande abraço joao Francisco-DF

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  2. Parabéns Maurício pelo trabalho, lisura e competência, aqui em Pirajuí pensamos como você.
    Forte abraço e saudações verdes!

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